Após enfrentar câncer do pai e de pets da família, bióloga desenvolve alimento funcional que ameniza efeitos colaterais da quimioterapia
Produto, ainda em fase de testes em animais, é produzido por startup de biotecnologia de Bauru (SP), que é finalista em campeonato mundial. Alimento tem como ...

Produto, ainda em fase de testes em animais, é produzido por startup de biotecnologia de Bauru (SP), que é finalista em campeonato mundial. Alimento tem como base transformação de subproduto da produção de cerveja. Bióloga desenvolve alimento funcional que auxilia pets em tratamento contra o câncer Motivada pelo desejo genuíno de que o que pesquisava na área de terapia tumoral na universidade pudesse chegar a quem realmente precisa, a bióloga Marcela Rodrigues de Camargo, de Bauru (SP), desenvolveu um alimento complementar e funcional, com ingredientes naturais, que ameniza os efeitos colaterais e potencializa o tratamento do câncer. 📲 Participe do canal do g1 Bauru e Marília no WhatsApp O produto, desenvolvido tanto para pets quanto para seres humanos, está em fase de testes ainda nos animais e é produzido em escala laboratorial, porém, já tem se destacado tanto no país quanto no exterior. O alimento é produzido pela startup Sante Science, fundada por Marcela e o marido, Pedro Vannini. A empresa é finalista de um campeonato mundial que premia ideias inovadoras das chamadas foodtechs, que são as startups da área de alimentação e nutrição. A grande final da Copa Mundial de Foodtechs será nos dias 15 e 16 de maio, na Suíça, e a empresa do casal de Bauru é a única representante do Brasil na competição. Veja mais abaixo informações sobre a competição. Alimento funcional é resultado de anos de pesquisa da bióloga de Bauru Arquivo pessoal Da pesquisa para a ideia do produto O alimento produzido pela bióloga é o resultado de anos de pesquisas, iniciadas ainda na graduação, em 2003, na Universidade Estadual Paulista (Unesp), na área de terapia tumoral, que é o conjunto de técnicas utilizadas para o tratamento do câncer. Quando precisou enfrentar a doença de perto, com o diagnóstico de câncer do pai e também de animais de estimação da família, Marcela passou a questionar a aplicabilidade de todo o conhecimento que era gerado nas pesquisas acadêmicas. "Eu me formei como bióloga na Unesp de Bauru e iniciei a minha carreira acadêmica em terapia tumoral. Desde então, venho estudando essa parte de imunoterapia, produtos naturais. A hora que, de fato, o câncer entrou na minha casa, eu comecei a me questionar por que tudo que eu produzia de artigo científico, de livro, de material acadêmico, não estava disponível para a população. Eu fazia pesquisa, descobria coisas, divulgava, publicava, mas a hora que eu precisei efetivamente dessas coisas não tinha à disposição", conta a bióloga. Foi nesse momento, a partir desses questionamentos, que a ideia do produto começou a ser desenhar. "Eu comecei a ficar incomodada com tudo isso. Fui entender que era uma necessidade do mercado ter produtos com base científica, enfim, base sólida mesmo. Quando a gente enfrenta o câncer, sempre busca soluções naturais para poder complementar o tratamento, e a gente acaba ficando à mercê de receitas de vizinhos, de colegas, que a gente não tem a comprovação científica, não tem a base sólida do funcionamento ou de que não atrapalha o tratamento", completa. Startup fundada pela bióloga de Bauru (SP) é finalista de campeonato mundial Arquivo pessoal Um passo importante para transformar a ideia na realidade de um produto foi o contato da bióloga, durante a pesquisa de pós-doutorado, com a incubadora de negócios de base tecnológica e científica da própria Unesp. Foi por meio das orientações desse projeto, que faz parte de todo um ecossistema de inovações que envolve outros setores não só na cidade de Bauru e região, como também em todo o estado, que Marcela fez a transição da área acadêmica para o empreendedorismo e estruturou a startup. "Tem que ter todo um caminho para percorrer coisas novas a serem aprendidas e foi aí que eu 'mudei a chavinha'. Eu quero fazer acontecer a ciência para fora do laboratório, para chegar à população", afirma. Atualmente, a Sante Science produz, em escala laboratorial, o primeiro alimento fermentado proteico vegano desenvolvido para pets com necessidades nutricionais especiais. O alimento é oferecido em formato de uma pasta criada em um processo que transforma em ingredientes o subproduto da produção de cerveja. A pasta é oferecida, ainda em fase experimental, para os animais de estimação em tratamento oncológico por meio de parceria com veterinários do estado de São Paulo e também de outras localidades. Incubadora de inovações O professor Paulo Noronha é coordenador adjunto da Saruê Incubadora, que envolve as três faculdades presentes no campus da Unesp de Bauru - Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação (FAAC); Faculdade de Engenharia de Bauru (FEB) e Faculdade de Ciência (FC) – e concentra startups de base tecnológica e científica; entre elas, a empresa de Marcela e Pedro. Ele explica que a incubadora é um espaço que oferece a estrutura para transformação de uma ideia, que, no caso do ambiente da universidade, surge a partir de projetos de graduação e níveis de pós-graduação, em um modelo de negócio. "As atividades da incubadora seguem um roteiro estabelecido pelo Sistema Paulista de Ambientes de Inovação, que é um ecossistema que regula as atividades desses ambientes no estado de São Paulo. Então, as ideias nascem em centros de inovação tecnológica. Dentro da Unesp nós temos um, que é o Centro de Inovação Tecnológica de Bauru (CiTEB)." Laboratório da startup funciona na incubadora da Unesp em Bauru Arquivo pessoal Quando a ideia se transforma em um produto que pode vir a ser comercializado em determinado nicho de mercado, entra a etapa da incubadora. "No estágio do centro de inovação, a pessoa tem uma ideia. Quando ela já tem um produto, ela saiu já da etapa de ter uma ideia e criou um produto, e a ideia foi tangibilizada, ela vai para uma incubadora, transformar aquele pequeno produto que ela tem, ou aquele produto inicial, em, de fato, um produto comercial. Nesse estágio, que dura, em média, até dois anos, ela vai se viabilizar, de fato, enquanto empresa." Esse é o estágio da startup da bióloga e do marido, que também é biólogo, mas tem formação em administração, gestão e sustentabilidade, conhecimentos que são importantes para a viabilização do negócio. O coordenador adjunto da incubadora destaca a importância do trabalho desenvolvido pela empresa dentro desse contexto das startups de base tecnológica, que saem da universidade e ainda estão buscando se viabilizar. "Não só porque eles têm um produto muito bom, que nasceu de uma pesquisa científica sólida, mas ele também é muito fácil de ser permeado e adaptado para outros nichos da área de saúde. Pode começar com saúde animal, mas já estamos trabalhando também com saúde humana. E todo o espaço que a Marcela e o Pedro conseguiram já no Brasil e fora do Brasil é uma coisa ímpar", afirma Paulo. O próximo passo é a ampliação da produção em laboratório para patamar em larga escala, que pode ocorrer em parques tecnológicos que oferecem estrutura necessária para a empresa se sustentar. "O parque tecnológico funciona como? Ele funciona basicamente com a seção de espaço físico e alguma infraestrutura para a empresa fazer essa escala sair de uma escala quase que artesanal ou pré-industrial para já tentar se viabilizar em escala industrial", explica o professor. Copa do Mundo das Foodtechs Pedro é sócio da startup e marido da bióloga de Bauru e explica os aspectos analisados nas fases campeonato mundial Arquivo pessoal A startup do casal de Bauru se enquadra em um setor de inovações na área de alimentos e nutrição, as chamadas foodtechs, que podem se inscrever para participar da Foodtechs World Cup. A competição é como um Copa do Mundo que acontece nos meios esportivos, na qual startups do setor vão competindo entre si nos continentes. Na América Latina, a empresa concorreu com outras 115 foodtechs na primeira etapa, ficou entre as seis melhores de cada continente na semifinal e, agora, será a única representante do Brasil na grande final na Suíça, na cidade Lausanne, nos dias 15 e 16 de maio, em um evento presencial. Sócio da Sante Science, Pedro explica que são avaliados vários aspectos da solução ou produto apresentado pelas concorrentes durante as etapas da competição. "São questionamentos como se o seu produto tem potencial de escala? São 10 pessoas que vão precisar ou são 10 milhões? E isso é escalável ou isso dá muito certo no laboratório, só que não existe como fazer isso para toda a população? Então, eles vão avaliando tudo isso. A gente se inscreveu, mostrou o que a startup está desenvolvendo, como que a gente pensa que isso pode chegar ao mercado, e fomos passando as fases." A competição tem envolvimento de grandes empresas multinacionais do setor de alimentação e nutrição, então é também uma oportunidade de apresentar o produto desenvolvido pela startup e buscar parcerias e investimentos. Um dos diferenciais apontados pelos fundadores da empresa é a questão da sustentabilidade e do processo de economia circular que envolve a produção do alimento funcional. "O que também nos deixa muito orgulhosos é que o mundo está olhando para a nossa solução e falando 'nossa, isso tem um potencial enorme de atingir milhões de pessoas, milhões de animais'. Tem uma causa nobre que a gente também. Como a gente pega um subproduto de cervejaria, a gente também atua beneficiando o meio ambiente. Então, a gente evita que vários quilos de CO2 vão para o meio ambiente", explica Pedro. Por a empresa ser uma startup ainda sem faturamento, o casal está com uma campanha nas redes sociais para quem puder ajudar financeiramente com os custos da viagem à Suíça. "Essa competição vai definir quem vai ser o grande campeão. Nesse ano, nós somos o único representante do Brasil lá. Isso dá muito orgulho, porque a gente está competindo com o mundo todo. É bastante desafiador, mas, ao mesmo tempo, a gente está se preparando bastante para trazer esse primeiro lugar. Como a gente é uma startup ainda, não tem faturamento, não temos caixa para poder fazer uma viagem desse porte. Então, a gente está fazendo uma vaquinha para que a população, de forma geral, possa auxiliar a gente a ir até lá e trazer esse título e também poder fazer parceria com grandes empresas que vão estar lá", completa Marcela. Entre os planos em andamento pelos idealizadores da startup estão a busca de investimentos para tornar a produção em maior escala com a possibilidade de comercialização e também as adequações das soluções em alimentos funcionais para os humanos. Veja mais notícias da região no g1 Bauru e Marília VÍDEOS: assista às reportagens da região